02 dezembro 2010

GREG LYNN .
Greg Lynn, com formação em filosofia e arquitetura, tem desenvolvido esforço no sentido de combinar as realidades do design e da construção com potenciais especulativos, teóricos e experimentais utilizando os meios digitais.
Algumas obras de Greg Lynn oferecem novas abordagens de projeto desenvolvendo uma “lógica mais fluida de conectividade” . São expressas através de desdobramentos que partem da geometria Euclidiana de pequenos volumes e empregam a geometria topológica, “rubber-sheet”, de curvas e superfícies contínuas. Estas superfícies são matematicamente descritas como NURBS – Non-Uniform Rational B-Splines – cujas formas são facilmente controladas pela manipulação e controle de pontos e nós, tornando as formas complexas do espaço topológico computacionalmente possíveis.



Palestra de Greg Lynn sobre as origens matemáticas da arquitetura e como a álgebra e as
ferramentas digitais possibilitam aos projetistas modernos irem além das formas de construção tradicional. Uma notável igreja em Queens (e um conjunto de chá de titânio) ilustram esta teoria.
"A simetria não seria o sinal de ordem e organização; a simetria seria a ausência de informação"...
"Quando você perde informação, mutará para a simetria; Sempre que você adiciona informação a um sistema, quebrará a simetria"....

03 junho 2010

FORÇAS DECISIVAS DO SÉC. XXI
INSPIRAÇÃO CRIATIVIDADE INOVAÇÃO
INSPIRAÇÃO a matéria prima
CRIATIVIDADE a transgressão; a habilidade de pensar diferente e desafiar preconceitos que se limitam às soluções existentes.
INOVAÇÃO a quebra de normas rígidas ocorrendo sempre que algo é criado para melhorar um sistema, a descoberta de maneiras novas e efetivas de lidar com o mundo.
ASPECTOS DA CRIATIVIDADE A SEREM CONSIDERADOS EM CURSOS DE ENGENHARIA E DESENHO DE PRODUTO INDUSTRIAL
por Luiz Vidal Negreiros Gomes, B.DI, M.Sc, Ph.D
Ligia Maria Sampaio de Medeiros, B.DI, M.A., M.Eng.Prod., D. Sc.
 Este artigo é fruto de um ensaio introdutório para o Projeto de Re-estruturação do Ensino da Engenharia na Universidade Federal de Santa Maria, REENGE. O seu objetivo é demonstrar não só pensadores e governos dos chamados países desenvolvidos economicamente há tempo vêem se preocupando com as questões de uma filosofia para o ensino tecnológico e os melhores meios de estruturar os currículos para o primeiro, segundo e terceiro graus do ensino no que tange à tecnologia, ciência e desenho.



Procura-se também demonstrar que podem ocorrer verdadeiras mudanças - e não meras modernizações - no ensino da engenharia se, porventura, as disciplinas das áreas consideradas básicas para o desenvolvimento das diversas especializações da tecnologia sejam trabalhadas inter e multidisciplinarmente. Com tal idéia em mente, propõe-se uma disciplina - a biônica - ou o estudo dos sistemas e organizações naturais, visando à análise e às descobertas de aspectos funcionais, estruturais e morfológicas para a aplicação em soluções de problemas técnicos, tecnológicos e de desenho nos produtos da engenharia humana. Conclui-se o artigo com a idéia do programa “Educação da Engenharia para um Mundo em Mutação” no qual está colocado algo muito importante: No mundo de hoje e no futuro, os programas de educação em engenharia devem não apenas ensinar o básico da teoria, experimentação e prática da engenharia, mas ser um ensino relevante, atrativo e conectado com a realidade e os avanços tecnológicos.
...
CONCLUSÃO
A criatividade, então, pode ser entendida como a expressão para representar todos os processos relacionados com o pensamento produtivo, assim como as formas com que o homem molda o meio ambiente, através de seus produtos verbais e não-verbais, concretos ou abstratos. ...
A criatividade da criança é suprimida em casa e na escola onde o que nós vemos é a rendição prática dos bebês e adolescentes. O que as escolas fazem, é induzir as crianças a quererem pensar do modo que as escolas querem que elas pensem. As escolas querem que elas pensem do modo que os seus pais querem que elas pensem: conservadoramente, não criativamente.

Um quebra-cabeça é um problema que não podemos solucionar devido a uma coação imposta por nós mesmos. A criatividade é impelida (acorrentada) por uma coação imposta por nós mesmos. Desse modo, a chave para nos libertarmos está em desenvolver uma habilidade em identificar estas coações e deliberadamente removê-las.



Não é o bastante, suficiente alertar-nos que o fato da coação imposta por nós mesmos é o que obstrui a criatividade do "problem solving". Um problema pode ter cinco tipos de componentes:
1 - Aquele que encara o problema e toma as decisões (o solucionador);
2 - Aqueles aspectos da situação do problema que o solucionador pode controlar: as variáveis controláveis;
3 - Aqueles aspectos do problema que não podem ser controlados, mas que junto com as variáveis controláveis, podem afetar o resultado da escolha: as variáveis não controláveis. Deve ser quantitativo e qualitativo; juntos eles constituem as condições do problema.
4 - Forças impostas de dentro ou sem os possíveis valores das variáveis fechadas e abertas.
5 - Os possíveis resultados produzidos juntamente pela escolha de solucionador e as variáveis abertas.
...
Agora uma pergunta: Qual o significado da "arte" na "arte do problem solving"? Normalmente, "arte" é usada desta maneira não tem nada a ver com estética. Para a maioria das pessoas, estética não tem relevância com o problem solving. A arte do problem solving usualmente refere-se tanto a nossa inabilidade para entender o problem solving completamente quanto a nossa habilidade para tomar decisões a despeito desta deficiência.

Um resultado firmemente desejado é chamado um ideal. Ominisciência, por exemplo, tem sido tomada como um ideal para a ciência. Podemos nunca saber tudo, mas podemos saber mais.



A falta de um senso de progresso em direção a ideais, a crescente convicção de que a grande e rápida mudança cultural e tecnológica está nos levando a parte alguma, é outro grande contribuinte para uma decrescente qualidade de vida. Um senso de progresso em direção a ideais dá à vida significado e torna as escolhas significativas. Hoje mais e mais pessoas sentem que elas não têm mais controle sobre seus futuros. Isto tende a fazê-las verem suas escolhas como ilusórias mais do que reais. Fatalismo e resignação para um futuro que está fora do nosso controle degrada a qualidade de nossas vidas. Em contraste, a crença de que o futuro depende daquilo que fazemos de vez em quando, aumenta esta qualidade.

É aparente que aquilo que queremos, nossos objetivos, influencia nossa escolha de opções. Não é tão aparente o fato de que as opções disponíveis influenciam nossa escolha dos objetivos. Nossa concepção de possíveis resultados afeta os resultados que nós desejamos.



Nossa habilidade de resolver problemas é desse modo limitada por nossa concepção do que é possível. Além do mais, mesmo nossa concepção da natureza do problema pode ser limitada deste modo. De qualquer maneira, tais limites são freqüentemente impostos por nós mesmos. Muitos dos nossos problemas derivam de um descontentamento com alguns aspectos do nosso estado geral (comum).



Quando nós focamos as deficiências do nosso estado comum, tendemos a observar cada deficiência independentemente. Embora verificadas muitas deficiências parecem difíceis para removermo-las. Um ideal revela as relações entre coisas que podem ser feitas no futuro, sendo que isto tende a fazer-nos lidar simultaneamente com estágios de ações recíprocas ameaçadoras e oportunidades, tratá-las como um todo, como um sistema de problemas.



O esforço para lidar com estes estágios de problemas recíprocos como um todo é o planejamento, que contrasta com o problem solving. Planejar implica não somente em "dealing holistically" com um nº de problemas recíprocos, mas também com uma orientação previdente. Infelizmente, muito do que é chamado planejamento está preocupado em corrigir um número independente de deficiências observadas.



O problem solving é sempre encaixado no processo de planejamento. Nenhum problema é tratado isoladamente, mas cada problema é formulado com um só, de um grupo de problemas que tratado como um todo. O planejamento proativo consiste em planejar um futuro desejável e encontrar modos de mover-se em direção a ele eficazmente quanto possível.



O design de um futuro desejável é melhor executado quando ele está encaixado em um redesign idealizado de tudo o que esteja sendo planejado - uma nação, uma agência, um negócio. Igualmente o redesign é uma proposição explícita do que os designers teriam agora se eles pudessem ter tudo o que quisessem. Tal design deveria se submetido a apenas duas forças:

1º - O design deveria ser tecnologicamente possível. Isto não impede as inovações tecnológicas; pretende-se evitar o processo de tornar um exercício em ficção científica. Todos os outros tipos de forças externamente impostas - por exemplo econômicas, políticas e legais - deveriam se desprezadas (ou discutidas).



2º - é que o objeto ou estado planejado deveria ser tão planejado que se ele viesse a existir, pudesse sobreviver. O design deveria ser operacionalmente viável.

Além do mais, certamente, qualquer design é inevitavelmente restringido pela falta de informações, conhecimentos, entendimento, sabedoria, para não mencionar imaginação, dos designers. Dessa forma um estado idealizado de assuntos deveria ser um estado no qual os designers fossem capazes de aprender com sua experiência e adaptar chances neles mesmos e as suas condições. Segue-se que um estado ou sistema ideal deveria ser flexível e capaz de ser modificado facilmente, só assim poderia ser melhorado continuamente.



Um design idealizado não é precisamente utópico, pois ele é capaz de ser modificado ou melhorado. É melhor que estes designers possam conceitualizar agora, mais seu design, sem parecer utópico, é baseado no reconhecimento do fato que nenhum design idealizado pode permanecer ideal muito tempo. Assim, o produto de um design idealizado não é um estado ou sistema ideal, mas um sistema ou estado de procura do ideal.



Um design idealizado não é utópico por outra razão: seus designers não fingem ter encontrado as respostas finais para todas as questões que possam por ventura serem feitas sobre o ideal. Onde eles não têm uma resposta, deveriam designar dentro do estado uma capacidade para encontrá-la. É um assunto para contínuas revisões de acordo com o surgimento de novas informações, conhecimentos, entendimentos, sabedoria e imaginação adquiridos.



O design idealizado é aplicável tanto para pequenos sistemas, mesmo individuais, quanto para grandes sistemas; é aplicável tanto para as partes existentes de sistema como para o todo.



O design idealizado produz "unleashes" criatividade porque ele relaxa as coações impostas internamente. Isto aprova a irreverência imaginativa pelas coisas como elas são e encoraja a exploração de áreas previamente impedidas pela nossa própria imposição e culturalmente pelos tabus impostos.



Para converter o aparentemente impossível em possível, é necessário remover ou relaxar as coações que derivam da possibilidade considerada. O design idealizado pode ser extremamente efetivo na remoção e relaxamento de tais coações. No design idealizado, como em todo design, as partes são reunidas em um todo. O design é essencialmente um processo sintetizador. Seu produto é sempre um sistema, um conjunto de partes inter-relacionadas que formam um todo. O design particularmente o idealizado, está nas propriedades do todo.



Um sistema sempre tem propriedades que suas partes necessitam. Embora um sistema de soluções de problemas inter-relacionados sempre tenha propriedades que lhe são necessárias, suas partes adquirem essas propriedades por serem uma parte daquele sistema que de outro modo não teriam. As soluções que estão impraticáveis podem interagir separadamente para produzirem um sistema de soluções possíveis.




02 junho 2010

MANUAL DO ARQUITETO DESCALÇO .

“Manual feito para desenvolver a confiança daqueles que têm o sonho de construir e desejam compreender a relação entre a habitação e seu entorno , seus limites e suas possibilidades.” Johan van lengen
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30 maio 2010

MUTAÇÕES DO TRABALHO E EXPERIÊNCIAS URBANAS

TRABALHO VISTO DE DENTRO : DA RECUSA AO TRABALHO “ESCRAVO” AO ÓCIO CRIATIVO SEM CULPA"
"MUTAÇÕES DO TRABALHO: do trabalho limitante ao ócio criativo sem culpa (Não trabalho)"
"O MODELO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E AS NOVAS FORMAS DE RELAÇÃO"
“ENTRE O TRABALHO LIMITANTE (CONDICIONANTE, ESCRAVO) E LIBERDADE DE EXPRESSÃO (VIVER DE BICO) SEM CULPA E SEM MEDO”
"CONTINUIDADE OU MUDANÇA: O MODELO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO"
"RELAÇÕES DE TRABALHO: ENTRE UMA CARREIRA ( UMA DIREÇÃO) E MULTI EXPRESSÕES (VIVER DE BICO)"
"Uma sociologia do trabalho contrastada"

MUTAÇÕES DO TRABALHO E EXPERIÊNCIAS URBANAS . vera telles .
Neste artigo, pergunta-se sobre as dimensões societárias das atuais mutações do trabalho, em particular sua desconexão dos dispositivos do emprego sob as formas variadas de trabalho precário e de subcontratação, ou seja: de que modo as novas realidades do trabalho (e do não-trabalho) redesenham o mundo social, as relações de força e os campos de práticas que fazem a tessitura da cidade e seus espaços. As circunstâncias do trabalho precário e intermitente alteram tempos e espaços da experiência social, bem como a própria experiência urbana nos circuitos descentrados dos "territórios da precariedade". Este artigo propõe prospectar essas novas realidades seguindo os percursos e as trajetórias urbanas das novas gerações. Acredita-se que essa pode ser uma via de entrada profícua para a descrição desse mundo social redefinido: a diferença entre as gerações tem hoje a peculiaridade histórica de coincidir com mudanças de fundo no mundo do trabalho e nas dinâmicas urbanas. Por outro lado, essa é também uma maneira de relançar a pergunta sobre os sentidos do trabalho e seus efeitos estruturantes na vida social. Resumo

TELLES, Vera da Silva. Mutações do trabalho e experiência urbana. Tempo soc., jun. 2006, vol.18, no.1, p.173-195. ISSN 0103-2070.

Já não é de hoje que se discutem os efeitos excludentes das atuais mutações do trabalho, sob o impacto da reestruturação produtiva em tempos de revolução tecnológica e globalização da economia. No entanto, ainda pouco se sabe sobre as configurações societárias que vêm sendo urdidas nas dobras dessas transformações. Entre, de um lado, os artefatos da "cidade global" sob o foco dos debates entre urbanistas e pesquisadores da economia urbana e, de outro, os "pobres" e "excluídos" tipificados como público-alvo das políticas ditas de inserção social, há todo um entramado social que resta conhecer. E é isso justamente que situa o terreno em que ganha pertinência relançar a discussão sobre os sentidos e os lugares do trabalho na tessitura do mundo social. Se o trabalho não mais estrutura as promessas de progresso social, se os coletivos "de classe" foram desfeitos sob as injunções do trabalho precário, se direitos e sindicatos não mais operam como referências para as maiorias, se tudo isso mostra que os "tempos fordistas" já se foram, o trabalho não deixa de ser uma dimensão estruturante da vida social.

Mas é isso também que abre a interrogação sobre as novas configurações sociais nas quais essa experiência se processa. Não se trata tão-somente da ampliação do mercado informal e do aumento das hostes dos excluídos do mercado de trabalho. Como mostra Francisco de Oliveira (2003), a chamada flexibilização do contrato de trabalho significa que o trabalho "sem forma" se expande no núcleo do que antes era chamado de "mercado organizado". Na base desse processo, diz o autor, está o salto nas alturas da produtividade do trabalho em época de revolução tecnológica e financeirização da economia, de tal modo que o processo de valorização se descola dos dispositivos do trabalho concreto e termina por implodir as distinções entre tempo do trabalho e tempo do não-trabalho, entre emprego e desemprego. É o trabalho abstrato levado a extremos, que captura, mobiliza e transforma processos sociais e atividades as mais disparatadas em sobrevalor. Quebra-se o vínculo entre trabalho, empresa e produção da riqueza, e são outros os agenciamentos e diagramas de relações que se constituem. Zarifian (2003) fala de uma "economia de serviços", que não diz respeito às divisões conhecidas de setores de produção e que, a rigor, as torna irrelevantes, pois tem a ver com a trama de relações materiais e imateriais entre produção e consumo – publicidade, efeitos de marca, ações de marketing, cartões de fidelidade, e tudo o mais que acompanha o produto ou o serviço vendido/consumido, de tal forma que os consumidores terminam por participar da formação do valor apesar de não serem contabilizados como tal. Outros vão lançar mão da noção de "trabalho imaterial" para discutir atividades que não são codificadas como trabalho, que tentam fixar normas culturais, modas, gostos e padrões de consumo (cf. Lazzarato, 2002) ou que capturam e organizam os "tempos da vida" e não apenas os "tempos do trabalho" (cf. Aspe et al., 1996), tornando cada vez mais difícil diferenciar tempo do trabalho e tempo da reprodução.

São mutações de fundo. Mas então é preciso reconhecer que isso altera as relações entre trabalho e sociedade, seja no registro do trabalho que se descola dos dispositivos do emprego para se desdobrar nas formas variadas de trabalho precário, intermitente, descontínuo, e que tornam inoperantes as diferenças entre o formal e o informal; seja no registro das miríades de expedientes de sobrevivência que mobilizam os "sobrantes" do mercado de trabalho, mas que também operam como outros tantos circuitos por onde a riqueza social globalizada circula e produz valor, tornando igualmente indiscerníveis as diferenças entre emprego e desemprego, entre trabalho e não-trabalho. É uma situação que está a exigir um giro em nossas categorias, de modo a construir um plano de referência que permita colocar em perspectiva e figurar esses processos, ressituar os problemas, levantar outros tantos e perceber nas dobras das redefinições e desagregações do "mundo fordista" outros diagramas de relações, campos de força que também circunscrevem os pontos de tensão, resistências ou linhas de fuga pelas quais perceber a pulsação do mundo social.

Por outro lado, esse constante entra-e-sai do mercado em meio aos diversos expedientes de trabalho precário termina por alterar as referências que pautavam e ritmavam a vida social. Se é verdade que a desconexão entre trabalho e empresa já faz parte da paisagem social, isso também significa que os tempos da vida e os tempos do trabalho tendem a se articular sob novas formas não mais contidas nas relações que antes articulavam emprego e moradia, trabalho e família, trabalho e não-trabalho (cf. Bessin, 1999). Eram binaridades que pautavam os ritmos da vida social, tendo por referência as regularidades e os disciplinamentos impostos pelas formas de emprego (cf. Supiot, 1994; 1999). Mas será necessário então se desvencilhar dessas binaridades clássicas, assim como a de formal-informal, para apreender a nervura própria do campo social, que não se deixaria ver se nos mantivéssemos presos a elas na análise do trabalho e do urbano.

Essas questões exigiriam uma discussão mais acurada, impossível de desenvolver nos limites deste artigo. Porém, servem como indicação de que talvez tenhamos que mudar o foco das atenções. Talvez seja preciso um deslocamento do jogo de referências para ressituar o trabalho no mundo social. Não tanto as verticalidades que construíram o trabalho nas formas conhecidas (e suas regulações centralizadas), mas os vetores horizontalizados de relações que articulam trabalho, a cidade e seus espaços, outros agenciamentos sociais e também outros eixos em torno dos quais desigualdades, controles e dominação se processam, afetam formas de vida e os sentidos da vida (cf. Zarifian, 2000).

Também é o caso de se perguntar de que modo as novas realidades do trabalho (e do não-trabalho) redesenham mundos sociais, as relações de força e campos de práticas que fazem a tessitura da cidade e seus espaços. Ainda: de que modo são redefinidas práticas sociais e as mediações que conformam uma experiência social sob outro diagrama de relações e outro jogo de referências. As circunstâncias variadas do trabalho precário e intermitente redefinem tempos e espaços da experiência social (cf. Sennet, 2000). Alteram, poderíamos dizer, a própria experiência urbana, seguindo os circuitos descentrados dos "territórios da precariedade" (cf. Le Marchand, 2004).

Talvez seja então o caso de prospectar os pontos de clivagem dessas novas realidades seguindo as práticas (e suas mediações) nesses circuitos redefinidos do mundo social. Pontos de clivagem que podem ser apreendidos justamente nos deslocamentos da experiência social e que cavam fundo a diferença entre as gerações. E essa pode ser uma via de entrada para a descrição desse mundo social redefinido. Afinal, a diferença entre as gerações tem atualmente a peculiaridade histórica de coincidir com mudanças de fundo no mundo do trabalho e nas dinâmicas urbanas.

Trabalho e cidade: relações redefinidas

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702006000100010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Vera da Silva Telles é professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania, Cenedic (USP).



 
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