17 outubro 2009

CIDADE CIBORGUE
André Lemos
A cidade é um artifício, uma máquina imaginária e concreta, que coloca em sinergia processos complexos de transporte e comunicação. Este não é um fato novo e desde as primeiras necrópoles primitivas, passando pelas cidades medievais, pelas cidades do renascimento, pelas cidades modernas da era da eletricidade, das redes de comunicação (telégrafo, rádio e TV) e do automóvel, até as cidades contemporâneas do ciberespaço, o que está em jogo é a dinâmica complexa das diversas redes tecnosociais (Musso, 1997; Castells, 2000; Mumford, 1998, Blanquart, 1997). Desde as primeiras cidades, esta relação, que é própria cultura, se dá pela circunscrição artificial do mundo natural, consolidando a própria humanidade. A cidade é uma grande máquina artificializante.
Desde a clássica “República” de Platão que os homens sonham com a cidade ideal, berço da vivência democrática, livre e autônoma. As cidades utópicas de Platão, Thomas More, Santo Agostinho ou Campanela lembram sempre o desejo humano inalcançável de um lugar e tempo ideais (Bosi, 1997). E a utopia é sempre uma ucronia já que o lugar a chegar (u-topos) está sempre fora do tempo (u-cronos). A cidade-ciborgue da cibercultura é preenchida por essa utopia e também pelas diversas distopias (1984, Metrópolis, Blade Runner, Matrix) de um mundo controlado e robotizado pelas tecnologias. Vivemos esse dilema de, ao mesmo tempo, estarmos na cultura e lutando contra os excessos dessa artificialização. O processo de “ciborguização” (Lemos, 1999, Gray, 1995) contemporâneo do corpo, do imaginário e das cidades nada mais é do que um prolongamento dessa condição humana presente desde as primeiras cidades (Mumford, 1998; Blanquart, 1997).
O homem só existe na cultura e a cidade é um dos seus principais artefatos, morada dos agrupamentos sociais, palco da cultura humanista e berço das artes e espetáculos. A cidade sempre foi uma estrutura híbrida e complexa, mas é a partir da década de 70, com a convergência entre as novas tecnologias e a informática, que podemos situar a emergência de uma cidade-ciborgue, fusão, complexificação e transformação da estrutura urbana clássica pelas tecnologias digitais de comunicação e informação. O processo está em andamento e em complexificação crescente nos obrigando a investigar essa nova relação.

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