19 abril 2009

A potência do imaginário de 'Neuromancer' nas origens da Cibercultura
Adriana Amaral

Colapso do futuro no presente. Pós-humanidade. Obsolescência do humano. Globalização. Megalópoles decadentes e sombrias. Pervasividade tecnológica cotidiana. Orientalização do Ocidente. Domínio ostensivo das megacorporações. Espetáculo e consumo. Vigilância eletrônica. Próteses e extensões. Território informacional. Roupas de couro e vinil preto. Fusão do sintético com o orgânico. Faça Você Mesmo. Biotecnologias. Subculturas juvenis. Hackers. Matrix. Linguagem e gírias das ruas. Eu poderia continuar essa lista e ainda assim não encerraria a discussão sobre os efeitos teórico-conceituais, sociológicos, antropológicos e filosóficos que Neuromancer catalisou e constituiu a partir de seu lançamento na década de 1980.

Com 'Neuromancer', William Gibson rompeu as barreiras entre a chamada literatura tradicional e o gueto do fandom típico da ficção-científica norte-americana, que permeou os sonhos de muitos autores de gerações anteriores: sci-fi sem fronteiras.

(...) No recém-nascido, obscuro e transdisciplinar campo da cibercultura, a inegável e inseparável relação cultura e tecnologia, e as próprias representações da tecnologia em todos os formatos midiáticos da cultura contemporânea, em suas interfaces com as teorias literárias e culturais pós-modernas, são compreendidas como as redes de conexão entre humanos e máquinas.

(...) 'Neuromancer' é a primeira parte do projeto de uma trilogia – a segunda e a terceira partes, respectivamente 'Count Zero' e 'Mona Lisa Overdrive', lançados pela Aleph - de um designer de palavras habilidoso que utiliza imagens, descrições e
sensações narrativas como ferramenta de observação da sociedade contemporânea e que soube perceber a efervescência de um período histórico visceral – o início dos anos 1980 - no qual a cultura da microinformática começou a se popularizar, desenhado a partir de diversas contraculturas – de um 1968 que volta em looping eterno - e subculturas nas quais os personagens mergulham.

(...) Em vez de descrever e acreditar num mundo perfeito, um paraíso tecnológico, com computadores garantindo o bem-estar e ajudando na resolução de problemas das pessoas, 'Neuromancer' nos aponta o lado negro que os avanços podem ocasionar - megacorporações substituindo a soberania dos governos, trazendo toda a sorte de corrupção, aniquilação social e das relações interpessoais.

(...) Assim, o impacto e a atração de 'Neuromancer' perduram em um âmbito que extrapola o literário e entra na areia movediça dos fluxos de influência e das representações na cultura pop, tendo se disseminado em comerciais publicitários, histórias em quadrinhos, games, filmes, moda, música e, até mesmo, no comportamento das gerações que já nasceram em um mundo científico-ficcional e no qual as distinções entre a vida real e virtual são cada vez mais tênues e se confundem a cada momento, para além do bem e do mal.


18 abril 2009

SLOW ATTITUDE . a cultura do 'slow down'
"Slow attitude" está chamando a atenção dos próprios americanos, escravos do "fast" (rápido) e do "do it now!" (faça já!). Portanto, esta "atitude sem pressa" não significa fazer menos, nem ter menor produtividade.
Significa sim, trabalhar e fazer as coisas com "mais qualidade" e "mais produtividade", com maior perfeição, com atenção aos detalhes e com menos stress. Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do prazer de um belo ócio e da vida em pequenas comunidades.
Do "aqui" presente e concreto, em contraposição ao "mundial" indefinido e anônimo. Significa retomar os valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver.
SIGNIFICA UM AMBIENTE DE TRABALHO MENOS COERCITIVO, MAIS ALEGRE, MAIS LEVE, E PORTANTO MAIS PRODUTIVO, ONDE OS SERES HUMANOS REALIZAM, COM PRAZER, O QUE MELHOR SABEM FAZER
É saudável refletir sobre tudo isto. Será que os antigos provérbios: “Devagar se vai ao longe" e “A pressa é inimiga da perfeição" merecem novamente a nossa atenção nestes tempos de loucura desenfreada? Não seria útil e desejável que as empresas da nossa comunidade, cidade, estado ou país, começassem já a pensar em desenvolver programas sérios de “qualidade sem pressa" até para aumentarem a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços sem necessariamente se perder “qualidade do ser"?

12 abril 2009

E-MOTIVE HOUSE . Ficção ou Realidade?










Estrutura Programável muda de forma em tempo real .
A 'casa emotiva' é totalmente industrial, flexível em sua programação, desmontável, inovadora, coloca a domótica em outro nivel de projeção que será comumente aplicável num futuro próximo.
Quão inovadora uma construção pode ser? Que utilidade pode haver em se projetar uma residência altamente inovadora como a 'casa emotiva'?
A residência deve ser considerada como um laboratório que toca as relações emocionais entre ela e seus habitantes, entre ela e seus visitantes e entre os elementos da residência em si.

Mas uma 'casa emotiva' pode ser útil se for construída e testada hoje. A 'casa emotiva' é um caso teste para 'extended reality'. Materiais tradicionais são aumentados com uma infinidade de tecnologia.

A construção da casa e os móveis tornam-se programáveis. Tudo muda, exceto a área da cozinha e do banheiro. A forma da 'casa emotiva' é um espaço longo e móvel, e em ambas as pontas situam-se os blocos sólidos da cozinha e do banheiro. O espaço interno pode ser mudado de área de trabalho para área de refeição, área de dormir, etc.
Dez anos atrás isto poderia ser uma fábula, mas atualmente isto já é possível. O espaço pode ser ajustado, tanto em sua forma como no seu índice de informações. Toda combinação do espaço real com uma imagem virtual e /ou uma informação, pode ser possível.

Neste sentido, a casa desenvolverá uma emoção própria, podendo ser um reator ou um ator. A atuação poderá se tornar possível pela interação de uma infinidade de agentes como feixes pneumáticos, músculos de contração e cilindros hidráulicos.

O movimento dos usuários e as mudanças no tempo são registradas por uma diversidade de sensores e são traduzidas pelo cérebro da casa em uma ação.
Desta maneira, os habitantes e os elementos da casa desenvolverão uma lingua comum de modo que possam se comunicar um com o outro.
Estrutura Programável . A estrutura é um tear de tecelagem entre uma estrutura dura e uma estrutura macia. A estrutura dura consiste em feixes de madeira maciços e a estrutura macia em longas câmaras infláveis entre os feixes de madeira. Neste sentido as câmaras podem expandir ou encolher para dar uma forma global à 'casa emotiva'.
A construção total é formatada por uma estrutura espacial de cilindros hidráulicos que agem seguindo ou gerando 'movimentos-forma'.

A estrutura dura no exterior é coberta com células fotovoltaicas para gerar eletricidade. Os feixes são conectados uns com os outros com músculos pneumáticos que podem contrair e relaxar. O desafio técnico encontra-se no tear de tecelagem entre os elementos programáveis e a estrutura dura, e na interação entre estes agentes. Todos têm que trabalhar juntos como um rebanho. Os certificados que precisam ser feitos são baseados em algumas regras simples parea congregação do comportamento. As regras matemáticas de comportmaneto são conhecidas mas nunca são aplicadas nas peças estruturais.
Software Multi-player. O Projeto 'Hyperbody', sob a supervisão do professor Kas Oosterhuis, ganhou uma grande experiência com 'resposta emocional para ambientes programáveis'. A interação aqui é construída pelo programa de desenvolvimento do jogo Virtools.
Virtools tem uma versão multi-player que será usada aqui para jogar dentro da casa em tempo real. Os jogadores são os habitantes, as visitas e os elementos. Há também influências externas que podem determinar a interatividade. Não há sempre uma solução quando as influências externas e internas são apresentadas em tempo real no cérebro da casa. A reação será sempre uma complexa interação entre lotes de diferentes fatores. Uma complexa interação já parece como uma emoção. Nós estamos apontando para um desenvolvimento individual do caráter da casa; o experimento implica aprender a viver num ambiente com mente própria.
·Credits
Date: 2002
Site: Rotterdam
Project architect: Prof ir Kas Oosterhuis
Design team: Kas Oosterhuis, Ilona Lénárd, Gon Zifoni
Client: ONL




Os homens se orgulham de suas realizações e têm todo o direito de se orgulharem. Contudo,parecem ter observado que o poder recentemente adquirido sobre o espaço e o tempo, a subjugação das forças da natureza, consecução de um anseio que remonta a milhares de anos, não aumentou a quantidade de satisfação prazerosa que poderiam esperar da vida e não os tornou mais felizes. Reconhecendo esse fato, devemos contentar-nos em concluir que o poder sobre a natureza não constitui a única pré-condição da felicidade humana, assim como não é o único objetivo do esforço cultural” (Sigmund Freud, O Mal-Estar da Civilização, 1929).
“Para compreender o papel predominante da técnica na civilização moderna, é preciso, antes de tudo, (...) explicar não apenas a existência de novos instrumentos mecânicos, mas expor como a cultura estava pronta para utilizá-los e deles aproveitar-se amplamente. (...) a mecanização e a arregimentação não são fenômenos novos na história. O que é novo, é o fato que estas funções tenham sido projetadas e encarnadas em formas organizadas que dominam todos os aspectos de nossa existência” ( Lewis Mumford, Técnica e Civilização, 1934).

TECNOTOPIA versus TECNOFOBIA.
O MAL-ESTAR NO SÉCULO XXI
Gustavo Lins Ribeiro / Departamento de Antropologia /Universidade de Brasília

Ciência e tecnologia são herdeiras dos mais poderosos mitos da civilização ocidental, cavalgando promessas de progresso ilimitado, de organização racional da vida social, política e econômica, e de subjugação do mundo social e natural aos desejos e ao planejamento de decision-makers iluminados pelo saber. A formação do par C & T é resultado de complexos processos históricos que confluíram para uma naturalização tão intensa sobre seu papel na vida social, cultural, política e econômica que, hoje, podemos considerar estarmos imersos em uma cultura tecnocientífica. Rótulos como cibercultura fazem prospecções sobre os novos fantasmas e modalidades de vida de que estão prenhes as tecnologias de ponta. Para Arturo Escobar (1994: 214), cibercultura "refere-se especificamente a novas tecnologias em duas áreas: inteligência artificial (particularmente tecnologias de computação e informação) e biotecnologia". A difusão das novas tecnologias traz à luz dois regimes de sociabilidade: a tecnosociabilidade e a biosociabilidade que "encarnam a consciência de que cada vez mais vivemos e nos fazemos em meios tecnobioculturais estruturados por novas formas de ciência e tecnologia" (idem).

A dupla face utópica (paradisíaca) e distópica (apocalíptica) da tecnologia é central para entendermos os dilemas que cada vez mais enfrentaremos. Por um lado, encontramos formulações utópicas apoiadas na maravilha que se levanta da ampliação das qualidades e ações humanas. A tecnotopia, caudatária da ideologia do progresso e de uma visão evolutiva da história da tecnologia (especialmente a partir da Revolução Industrial), é hegemônica e, neste momento de crises de utopias, é, em larga medida, o grande metarrelato salvífico do mundo contemporâneo. Por outro lado, estão discursos distópicos apoiados no terror às forças destrutoras desencadeadas por diversas invenções (controladas por grupos específicos) ou no temor à punição provocada pela manipulação radical da natureza. A tecnofobia, marcada pela desigualdade da distribuição sócio-política-econômica do acesso à tecnologia e por um imaginário onde cohabitam discursos alternativos ou cosmologias mágico-religiosas com seus demiurgos, é, em geral, relegada a um segundo plano, mas, ocasionalmente, sobretudo quando o homem parece querer brincar de Deus, reúne energias com poder normativo e regulatório.

Ciberespaço, organismos engenheirados e ciborgs metaforizam a procura por transcendência tanto quanto são índices de ansiedades culturais do nosso tempo.

O surgimento de novos fetiches e sistemas de poder é levantado por Arthur Kroker e Michael Weinstein (1994) que apontam para o advento do "corpo ligado" (wired body) e daquilo que chamam de a "classe virtual".

Se existe algo que alimenta uma visão evolutiva de aperfeiçoamento constante no tempo, isto é a tecnologia. Não por outro motivo ela é a espinha dorsal da ideologia do progresso. Se a capacidade de intervenção no real será sempre mais elaborada, podemos esperar dilemas cada vez mais complexos. A tensão entre tecnotopia e tecnofobia persistirá e certamente interessará, cada vez mais, a todos. Dentre os muitos desafios que já se apresentam a diversas instituições, o do impacto do avanço científicotecnológico na vida política, cultural, econômica e social, nos corpos, na subjetividade, na natureza, é um dos maiores e crescerá aceleradamente.

02 abril 2009

A NOVA CIVILIZAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO

O novo princípio é ordem. Não se trata aqui de questões puramente teóricas, de remotos e abstratos problemas filosóficos que não nos dizem respeito. Trata-se da superação de nossa dor e da ciência que se propõe supe­rá-la e vencê-la; trata-se de enormes vantagens utilitárias compensadoras do esforço e do tormento da mortificação a que o homem está submetido; trata-se de, finalmente, ensi­nar e viver, não mais como crianças loucas, mas como adul­tos cheios de sabedoria. Trata-se de ver com clareza tudo quanto se relaciona com nosso destino humano, de obter resposta que esgote todos os porquês e todos os problemas que nos dizem respeito, e de comportarmo-nos, desse modo, com pleno conhecimento da conseqüência das nossas ações. Loucura continuar a atirar assim ao acaso e a embater-se continuamente contra reações que estupidamente desejamos e nos açoitam até sair sangue. Chegou a hora de compre­ender o delicado mecanismo dos fenômenos e de civilizarmo-­nos, não de brincadeira como até agora se fez; não mais na superfície apenas, mas em profundidade também; não só na forma, mas na substância; tanto nos meios como no fim; na matéria e no espírito. Entramos na fase construtiva, a vida colhe seus valores positivos e, nos ânimos batidos pela dor, os reconstrutores encontram o terreno preparado para o trabalho. O espírito, que através de tanta destruição se li­bertou de muitas das incrustações e escórias da matéria, pode finalmente dizer, depois de superado o profundo des­moronamento da onda descendente do materialismo: eu sou, esta é minha vez, posso criar. E a vida, que parecia prostra­da e morta, torna a soltar mais forte e mais para o alto, seu eterno grito de juventude. Vamos agora transportar para o plano humano da ação essa mas­sa de conceitos, transformar em concreto impulso constru­tivo a luminosidade desse imponderável, isto é, vamos trans­formar o princípio em ação, mas ação que as premissas cósmicas iluminem, sustentem e justifiquem. Trata-se de dar forma bem mais próxima e tangível, mais particular, porém mais real (porque mais aderente à hora histórica), mais hu­mana, atual e prática, aos princípios universais de um tra­tado universal. Nossa hu­manidade é primitiva: riquíssima de energia, mas pobre de sabedoria; extremamente dinâmica e extremamente ignorante. É fato conhecido. O homem é o que é e está bem onde está. As dores que o gravam lhe são proporcionais à sensibilidade e à ignorância. As provas que encontra e deve superar são as da sua classe, do seu nível evolutivo, adapta­das a suas capacidades. Para sermos práticos e compreen­síveis devemos permanecer ainda nessa atmosfera, com o objetivo preciso, porém, de levar-lhe a luz que lhe falta. Um dia se com­preenderá que vale o que somos, queremos e sabemos fazer e, portanto, merecemos, e não o que possuímos. O objetivo hoje é possuir e o homem é o meio; no entanto, o possuir é meio e o homem, fim. O efeito é dado pela causa; toda forma de vida tem as características derivadas das de seu germe. Assim, todo fenômeno se plasma e se desenvolve diversamente se­gundo a natureza das suas forças determinantes. Só quando o homem começar a compreender esses princípios tão elementares poderá começar a chamar-se civilizado. ... Trata-se de progredir e sa­bemos que a evolução é processo de progressiva harmonização... ... Se o homem seguisse a Lei, esta natu­ralmente proveria todas as suas necessidades.... O que mais vale não é possuir, na forma exterior, mas na interior; não nos efeitos, materiais, mas nas causas, espirituais; não nas garantias legais, mas nas nossas capacidades e qualidades. A única verdadeiramente segura é essa riqueza inalienável que não pode ser roubada porque é inseparável da personalidade, dada pelas nossas próprias qualidades. É segura e duradou­ra porque é a única verdadeira, honesta, justa, em equilí­brio com as forças da vida. Isso deriva das próprias quali­dades, é filho do mérito porque as qualidades só com o pró­prio trabalho se conquistam e nos tornam conceituados porque foi a nossa atividade e fadiga que as gerou e fixou. Se as possuímos é porque as conquistamos. Só então os bens são verdadeiramente nossos porque temos, fixadas em nós como instintos, as capacidades para sabê-los manter; e se os perdermos, para saber reconquistá-los. Doutro lado, quando não possuímos as capacidades e, portanto, o mérito e, assim, o direito, o dinamismo do fenômeno é cheio de desequilíbrio e se esgota, cedo ou tarde. Então os bens tendem a fugir-nos das mãos; perdemo-los porque não os sabemos administrar e, perdidos, não sabemos reconquistá-los. Eis como finalmente, não obstante todas as protetoras barreiras humanas da injustiça, a interior justiça da lei emerge. Começamos a subir os primeiros degraus das ascensões humanas. A atual maioria da humanidade vive e age in­conscientemente como fantoche manobrado por instintos, sem saber nada a respeito do porquê das coisas, sem com­preender o que e por que faz, as reações a que dá nasci­mento, as conseqüências dos próprios atos. Por esse conhe­cimento fundamental, que, segundo a lógica mais elemen­tar, deveria anteceder qualquer ação, o homem de nossos dias raramente se interessa e prefere, em primeiro lugar, agir, para depois compreender. Parece que os problemas do animal bastam para encher-lhe a vida e saciá-lo. Talvez o homem comum se perdesse em meio a essas questões que devem parecer-lhe de complexidade espantosa, a ele que vive na periferia, na superfície, e não no centro, na profundida­de. O pensamento das filosofias, apresenta-se-lhe contradi­tório; o das religiões, insuficiente; o da História, desconexo; o da política, faccioso e interessado. Em face dos mais im­portantes e, contudo, mais simples e necessários problemas da vida como, por exemplo: "Quem sou? Donde vim? Para onde vou? Por que vivo? Por que sofro?", o homem se per­cebe desnorteado e só porque o pensamento humano ainda não soube encontrar a síntese completa que lhe responda a tudo e, se tivesse sabido, conseguiria interpretá-la apenas de acordo com sua relativa maturidade. O homem de nos­sos dias vive, assim, em uma espécie de resignação à igno­rância, de adaptação à inconsciência; contenta-se em vegetar. Se isso pode ser dura contingência de sua evolução, é também triste aceitação e humilhante declaração de incom­petência. Podemos continuar a viver nesse estado? Só o in­voluído pode contentar-se com ele. Podemos continuar a agir sem entendimento, somente à custa de suportar as dolorosas conseqüências dos inevitáveis erros e desastres de que está cheia a vida individual e coletiva. Não é por isso? Certamente, que aos acontecimentos humanos, individuais e coletivos, faltará diretiva; esta, porém, não é confiada ao homem, não pode ser revelada a inconscientes; mas sê-lo-á qualquer dia, quando houver conquistado conhecimento e sabedoria. A formação de nova civilização do espírito, a for­mação do novo tipo humano do III milênio significa a con­quista de novo e imenso domínio, com o controle exato das diretivas da vida em nosso planeta. Não se trata de revolução social, exterior e formal, mas de maturação biológica, profunda e íntima. O homem atual crê estar sozinho no caos; no entanto, participa de imenso organismo. Involuído e, pois, insensível, inconsciente e ignorante, vê a desordem da superfície em que vive e nem suspeita a ordem presente nas causas, no interior das coisas. Enquanto evolui, deve o homem apren­der a tornar-se cidadão dessa pátria maior, o universo, e colaborador consciente desse grande organismo, harmonizando-se com todos os fenômenos irmãos e criaturas irmãs, com seus semelhantes, com as forças da Lei. A felicidade e o paraíso consistem, exatamente, nessa harmonização. Semeando, como fazemos, em ignorância e rebelião, só se pode colher reação e dor. Semeando em sabedoria e harmonia, colheremos felicidade e paz. Isso significa civilizar-se a sério e não, ter aprendido a construir máquinas sem, depois, saber fazê-las trabalharem. Em todo campo, políti­co, social, científico, filosófico, moral, torna-se necessário passar do sistema caótico ao sistema orgânico. O sistema do universo é perfeito. Nós, que não sabemos mover-nos nele, é que somos imperfeitos. Esse sistema contém a pos­sibilidade de toda a nossa felicidade. Para resolver os problemas, o caminho não é a violência e a impo­sição, mas a harmonia e a obediência. Basta havê-lo compreendido, para se por de lado todas as concepções de que habitualmente se vive.
Pietro Ubaldi . VEJA MAIS....www.pro-harmonia.blogspot.com

 
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